Há alguns meses, eu descobri que posso fazer parte do espectro autista de nível leve. Não foi uma total surpresa para mim, pois eu sempre me senti diferente das outras pessoas. Na infância, parecia ser uma questão de personalidade ou timidez. As pessoas falavam que eu era tímida demais, eu não podia ser tão quieta. Era muito difícil fazer amigos, e quando os tinha, a amizade durava muito pouco. Logo era trocada por outra pessoa (mais legal, talvez?) sem explicação. Eu sofria muito nessa época, não por mim, mas pela cobrança das outras pessoas: eu tinha que ser de um jeito que não conseguia ser por mais que tentasse e isso me frustrava. Na vida adulta as coisas melhoraram um pouco mas não mudaram. As pessoas pareciam esperar algo de mim que eu não sabia o que era, pareciam se frustrar e iam embora. Eu sabia que tinha algo de diferente em mim mas não conseguia encontrar uma razão ou explicação, mesmo consultando com psicólogos.
Comecei a suspeitar que poderia ser autista depois de assistir a um vídeo no Youtube que apareceu em minha timeline após eu pesquisar sobre DDA, por suspeita da minha psicóloga. A partir dai´uma nova porta de autoconhecimento se abriu. Me identifiquei com muitas das características descritas, como a dificuldade de entender as emoções dos outros, o interesse por assuntos específicos e a sensibilidade a sons e luzes. Fiquei curiosa e resolvi pesquisar mais. Conversei com minha psicóloga e a probabilidade é alta de estar no espectro, porém ainda não fui oficialmente diagnosticada.
Isso já é um divisor de águas para mim. Por um lado, me trouxe alívio, pois me ajudou a entender melhor o meu funcionamento e a buscar apoio adequado. Por outro lado, também me gerou angústia, pois implicou em uma mudança de identidade e de perspectiva sobre o passado e o futuro.
Eu percebi que muitas das dificuldades que eu tive na minha vida estavam relacionadas ao autismo, como os problemas de comunicação e socialização, a falta de empatia e de expressão dos sentimentos, a rigidez na rotina e nos hábitos, a baixa autoestima e a ansiedade. Eu também percebi que muitas das minhas qualidades também estavam ligadas ao autismo, como a honestidade, a lealdade, a criatividade, a atenção aos detalhes e a capacidade de aprendizado (na minha família sou considerada "a inteligente" porém estranha e metida, - aliás metida e mal educada são os meus principais predicados na vida adulta e eu nunca tinha entendido porquê ou em quais momentos acontecia. Agora eu sei que tem a ver com o espectro).
Enfim, decidi escrever este post para compartilhar a minha experiência com outras pessoas que possam estar passando pelo mesmo processo. Eu sei que não é fácil receber um diagnóstico de autismo na idade adulta, mas eu também sei que isso pode ser uma oportunidade de autoconhecimento e de crescimento pessoal. É bom lembrar que o autismo não é uma doença, e sim uma forma diferente de ser e de ver o mundo.
Neste texto, eu vou falar sobre o que é o autismo, como ele se manifesta em adultos, como fazer o diagnóstico e o tratamento, quais são os desafios e as vantagens de ser autista na vida adulta e como buscar mais informações e orientação sobre o assunto. Espero que este texto seja útil e esclarecedor para vocês. Vamos lá?
O autismo é uma condição neurológica que afeta o desenvolvimento e a interação social de uma pessoa. Ele faz parte de um espectro, ou seja, pode se manifestar de formas diferentes e com intensidades variadas. Algumas pessoas com autismo têm dificuldades na comunicação verbal e não verbal, outras têm interesses restritos e repetitivos, e outras apresentam sensibilidade sensorial aumentada ou diminuída.
O diagnóstico de autismo geralmente é feito na infância, mas nem sempre isso acontece. Muitas pessoas só descobrem que são autistas na idade adulta, seja por falta de informação, por terem sintomas mais leves ou por terem desenvolvido estratégias de adaptação ao longo da vida. Essas pessoas podem ter passado por situações de exclusão, incompreensão, frustração e sofrimento sem saber o motivo.
Se você suspeita que pode fazer parte do espectro autista, existem algumas formas de buscar mais informações e orientação. Uma delas é fazer testes online que avaliam alguns aspectos do autismo, como o AQ (Autism Spectrum Quotient) ou o RAADS-R (Ritvo Autism and Asperger Diagnostic Scale-Revised). Esses testes não substituem o diagnóstico profissional, mas podem indicar se há uma probabilidade maior ou menor de você ser autista.
Outra forma é procurar um psicólogo ou psiquiatra especializado em autismo para fazer uma avaliação mais detalhada. Esse profissional irá observar o seu comportamento, fazer perguntas sobre a sua história de vida e aplicar alguns instrumentos padronizados para identificar os sinais do transtorno. O diagnóstico é baseado em critérios clínicos definidos pelo DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) ou pela CID-10 (Classificação Internacional de Doenças).
Alguns dos sintomas mais comuns de autismo em adultos não diagnosticados são:
- Pouco contato visual com outras pessoas;
- Dificuldade para expressar ideias e sentimentos, bem como para compreender a linguagem corporal, gestos e expressões faciais dos outros;
- Aborrecimento com mudanças na rotina ou no ambiente, podendo reagir com birras, choro ou agressividade;
- Comportamentos repetitivos, como abanar as mãos, estalar os dedos, balançar o corpo ou repetir palavras ou frases;
- Maior interesse em objetos do que em pessoas, podendo ter uma fixação por determinados assuntos ou brinquedos;
- Maior sensibilidade a sons, luzes, cheiros ou contato físico, podendo se sentir incomodados ou fascinados por esses estímulos;
- Não responder ao próprio nome ao ser chamado.
O diagnóstico tardio de autismo em adultos pode trazer alívio, pois ajuda a entender melhor o próprio funcionamento e a buscar apoio adequado. Por outro lado, também pode gerar angústia, pois implica em uma mudança de identidade e de perspectiva sobre o passado e o futuro. Além disso, muitos adultos autistas enfrentam dificuldades para encontrar profissionais capacitados, serviços especializados e políticas públicas que atendam às suas necessidades.
Segundo alguns estudos, estima-se que cerca de 1% da população mundial seja autista, o que significa que há milhões de adultos no espectro. No Brasil, ainda não há dados oficiais sobre o número de autistas no país, mas espera-se que o censo de 2020 inclua perguntas sobre essa condição.
O reconhecimento e a valorização do autismo na vida adulta são fundamentais para garantir a qualidade de vida e a inclusão social das pessoas no espectro. Para isso, é preciso combater os estigmas e os preconceitos que cercam o tema, promover a conscientização e a informação sobre a diversidade do autismo e oferecer oportunidades de diagnóstico e tratamento adequados.
Sintomas de autismo em adultos: Quais os desafios e como lidar?. https://www.autismoemdia.com.br/blog/sintomas-de-autismo-em-adultos-quais-os-desafios-e-como-lidar/.
8 sinais e sintomas de autismo (TEA) - Tua Saúde. https://www.tuasaude.com/sintomas-de-autismo/.
Autismo em adultos: níveis, como identificar e tratar - Minuto Saudável. https://minutosaudavel.com.br/autismo-em-adultos/.
Autismo em adultos: como o diagnóstico tardio faz diferença?. https://www.minhavida.com.br/materias/materia-20617.